Muitos de nós sabemos histórias sobre o povo cigano.
Alguns de nós inclusive já ouvimos histórias contadas com o objetivo de
afastar-nos o máximo possível “deste tipo de gente”: ciganos roubam crianças e
os pertences de outras pessoas, mulheres ciganas seduzem os maridos de mulheres
direitas, mulheres ciganas fazem magias para o mau, etc.
Curiosamente também ouvimos histórias sobre pessoas negras, pobres,
gays, entre outras minorias discriminadas através das gerações.
Pensando um pouco no mundo em que vivemos é importante que saibamos que
ainda existem ciganos por aí, sofrendo muitos preconceitos. Quem sabe um destes
não seria um de nós mesmos? Ainda somos discriminados por sermos Umbandistas.
Que temos de tão diferente? Divulgam por aí histórias que “macumbeiros
sacrificam crianças”, “mulheres macumbeiras usam feitiço para roubar o marido
de mulheres direitas”, “macumbeiros fazem feitiço para o mau”. Acredito que
temos muito mais em comum com o povo cigano do que um dia pudemos imaginar.
Um povo com tantas semelhanças com a Umbanda não poderia ter encontrado seara
mais adequada para o trabalho espiritual, pois desde os primórdios o povo
cigano já acreditava na comunicação com forças astrais, na manipulação dos
elementos da natureza e na força da oração.
Hoje em dia não são todas as casas Umbandistas que realizam giras de
povo cigano. Algumas até chamam ciganos junto com os exus, o que não é adequado
uma vez que o trabalho dos ciganos do oriente, por exemplo, demanda manipulação
de energias diferentes daquela usada pelos exus para o trabalho espiritual. Porém
as casas que estão abertas a esse tipo de trabalho único encontram muita
satisfação em tê-los como parceiros na evolução espiritual e tratamento de seus
consulentes.
A diferenciação do trabalho também se expressa na diferenciação da
manifestação. Muitos ciganos trabalham com uma incorporação muito suave. Outros
trabalham ainda intuindo seus médiuns, tanto dentro quanto fora do terreiro. É
inclusive motivo de angústia para alguns médiuns toda essa sutileza, pois
muitas vezes se perguntam de onde estes pensamentos e ações estariam vindo.
Temos muito que aprender com o povo cigano.
O valor da liberdade. Ela é tão poderosa que nem mesmo a morte é capaz
de detê-la.
O valor do respeito. Os mais velhos são os mais sábios.
O valor da alegria. A música e a dança embalam noites de nascimentos e
de mortes nos acampamentos. Todas as fases da vida devem ser celebradas.
O valor da comunidade. Devemos estar unidos pelo que acreditamos e
partilhar o que temos.
O valor da desconfiança. Não devemos nos entregar por inteiro a partir
de um sorriso. Devemos sorrir de volta, mas sempre observando para saber o que
está por vir.
O valor da magia. Não me refiro à magia enquanto branca ou negra, mas
sim enquanto forma de manipulação de elementos dados a nós pelo criador.
Elementos estes que estão repletos de energia do universo que pode ser usada
para nos ajudar.
Toda essa sutileza me faz lembrar que os ciganos são o povo do vento.
O vento sopra livre na copa das árvores, possui elementos que alimentam
o fogo, porém também pode apagá-lo, pode passar sem ninguém ver, mas não passa
sem se fazer sentir. O vento traz perfume, traz fumaça para nos alertar, e
quando pára de soprar... nos sufoca.
Não consigo mais ver a Umbanda sem os amigos ciganos.
Salve sua linda falange.
Arriba povo cigano!
Optchá!
Por Minha
Amiga e Irmã: Roberta Pereira de Paula da Cigana Dara.
Obrigado Irmã, por nos
presentear com esse belíssimo Texto!
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